Polissemia - Língua Portuguesa
Os fenómenos da polissemia e da homonímia vêm criando um paradoxo ao levantar tantas dificuldades aos lexicógrafos, questões teóricas, metodológicas e descritivas aos semanticistas e nenhum problema para os falantes, os quais parecem não apresentar restrições tanto em termos de sua aquisição como no processamento da linguagem no cotidiano.
A
compreensão de polissemia é foco do nosso trabalho já que até o presente
momento, além da grande dificuldade de classificação das palavras que se
enquadram em um ou em outro fenômeno (essas dificuldades são ilustradas, por
exemplo, pelo tratamento da questão em dicionários), não é conhecida a
finalidade dessa diferenciação, na prática, nem se ela existe em termos de
armazenamento no léxico mental.
Nesse
sentido, o objetivo deste trabalho foi analisar o processamento da polissemia
no que concerne ao modo como elas são acessadas pelo leitor/ouvinte e se existe
alguma diferença entre decidir qual o sentido apropriado quando se acessa
sentidos totalmente diferentes ou sentidos próximos e, assim, saber se uma
tarefa demandaria mais custo do que a outra.
Palavras-chave:
Polissemia. Homonímia. Acesso lexical. Contexto.
INTRODUÇÃO
A flexibilidade do
léxico da língua portuguesa em Angola e as alterações semânticas propiciam a
ocorrência da polissemia e da homonímia, fenômenos amplamente discutidos por
gramáticos e linguistas. Embora sejam fenômenos distintos, nem sempre é fácil
determinar se uma palavra pertencente a uma ou a outra categoria.
Polissemia é o fenômeno linguístico
em que vários significados inter-relacionados associam-se ao mesmo
significante. É um fenômeno natural e importante para contribuir na economia do
léxico de uma língua, facilitando a comunicação entre falantes e minimizando o
esforço para a memorização do saber lexical.
Se não fosse possível
atribuir diversos sentidos a uma palavra, isso corresponderia a uma tremenda
sobrecarga na nossa memória.
No entanto, o critério
mais utilizado para se fazer distinção de um item lexical homônimo de um
polissêmico é a verificação da origem etimológica do mesmo, ou seja, um
critério diacrônico.
Para discutir mais detalhadamente todos esses aspectos
envolvidos no acesso de palavras polissêmicas mediado pelo contexto, dividiu-se
em três capítulos, afora a presente introdução.
O capítulo 1 faz uma breve apresentação dos conceitos
de polissemia, assim como dos problemas envolvidos na delimitação das palavras
nessas categorias.
O capítulo 2 trata da relação entre polissemia e a
homonímia bem como a polissemia com a ambiguidade.
O capítulo 3, ao final, tratará das conclusões obtidas
com este trabalho.
Compreender o significado das
palavras é indispensável para entender o funcionamento da língua portuguesa.
Em nosso idioma, a ciência que se
ocupa em desvendar significados e interpretar palavras e expressões é a Semântica.
Quando conhecemos bem as palavras e
temos um vocabulário razoável, escrever um texto fica muito mais fácil, pois
temos à nossa disposição uma variedade de vocábulos que podem ser selecionados
de acordo com a pertinência do momento.
PROBLEMA
Como nosso foco reside, então, na polissemia, de modo
específico, nosso interesse recai na mesma pergunta já feita por tantos
pesquisadores cujo campo de estudos é a psicolinguística: Há alguma diferença
entre acessar sentidos polissêmicos e homônimos? A
informação contextual interage com a informação lexical na chamada “fase de
acesso‟, isto é, antes da informação lexical ser completamente processada?
HIPÓTESE
Para refletir acerca dessas questões, centrais a esta
pesquisa, as hipóteses que levantamos são:
Hipótese 1: a homonímia e a polissemia podem estar na origem de
casos diversos de ambiguidade lexical e, portanto, o seu entendimento é
fundamental para o entendimento da ambiguidade e para a sua eliminação;
Hipótese 2: o modo como é encarado a polissemia vai ser decisivo
para a estruturação da descrição de qualquer porção do léxico, por exemplo, vai
ser decisivo para o estabelecimento da nomenclatura de um dicionário.
Ao aventar essas hipóteses estamos considerando que
todas as palavras seriam potencialmente polissêmicas e isso quer dizer que a
multiplicidade de sentidos não seria uma propriedade inerente a algumas
palavras, mas sim, uma condição propiciada pela combinação de propriedades
linguísticas, discursivas e cognitivas.
OBJETIVOS
Objetivo
Geral
Compreender a aplicação da
polissemia na língua portuguesa.
Objetivos
Específicos
Analisar
o processamento da polissemia no que concerne ao modo como elas são acessados
pelo leitor/ouvinte;
Diferenciar
polissemia da homonímia e ambiguidade;
Decidir
qual o sentido apropriado quando se acessa sentidos totalmente diferentes ou
sentidos próximos.
METODOLOGIA
A metodologia nos possibilita escolher o melhor
caminho, tornando o trabalho/estudo mais prático e mais científico.
A metodologia utilizada foi a Pesquisa científica. Dentre as suas
técnicas, foi utilizada a pesquisa
bibliográfica. A pesquisa bibliográfica é elaborada a partir de material já publicado, como
livros, artigos, periódicos, Internet, etc.
CAPÍTULO 1
A Polissemia representa
a multiplicidade de significados de uma palavra. Ou seja, chamamos de polissemia a
propriedade de uma palavra ou expressão que apresenta vários sentidos além de
seu sentido original.
Do grego polis, significa
"muitos", enquanto sema refere-se ao
"significado".
Portanto, um
termo polissêmico é aquele que pode apresentar significados distintos de acordo
com o contexto. Apesar disso, eles têm a mesma etimologia e se relacionam em
termos de ideia.
As palavras polissêmicas guardam uma relação de
sentido entre si, o que as diferencia das palavras homônimas.
Vejamos alguns exemplos no qual as mesmas palavras são
utilizadas em diferentes contextos:
Exemplo 1
A letra da música
do Chico Buarque é incrível.
A letra daquele
aluno é inteligível.
Meu nome começa com a letra D.
Logo,
constatamos que a palavra "letra" é um termo polissêmico, visto que
abarca significados distintos dependendo de sua utilização.
Assim, na frase 1, a palavra é utilizada como
"música, canção". Na 2 significa "caligrafia". Já na oração
3 indica a "letra do alfabeto". Apesar dos muitos significados, todos
se relacionam com a ideia de escrita.
Exemplo 2
A boca da garrafa
de cerveja está com ferrugem.
O seu João continua mandando bocas para a vizinha do 1.º D.
E que tal se você fechasse a boca?
Na oração 1
a boca da garrafa é a abertura do recipiente, enquanto na 2, tem o sentido de
provocação. Apenas na oração 3 é feita referência à parte do corpo. Todos, nos
entanto, se relacionam com a função da boca: abertura, fala.
Exemplo 3
A praia parecia um formigueiro no sábado.
O paciente queixou-se ao médico
do formigueiro nas mãos.
Foi todo picado logo depois de pisar
num formigueiro.
Na oração 1,
formigueiro tem o sentido de multidão, na oração 2, tem o sentido de coceira.
E, finalmente, na oração 3, o formigueiro refere-se à toca das formigas. Todos
se relacionam com a ideia de multidão, muitas formigas passando dão a sensação
de comichão, por exemplo.
Exemplo 4
1- O
compositor escreveu a letra da canção para seu filho.
2- A letra
“H” é a oitava em nosso alfabeto.
3- Sua letra
é muito bonita!
Em cada uma
delas o vocábulo é utilizado com diferentes acepções: na primeira oração, letra
refere-se ao texto que acompanha uma música; na segunda oração, letra refere-se
ao sinal gráfico do alfabeto; e, na terceira oração, letra refere-se à forma
que se dá à letra escrita. A palavra “letra” possui diferentes significados,
mas remete para o mesmo conceito: o da escrita.
1.3.
POLISSEMIA E ECONOMIA LINGUÍSTICA
A relação entre polissemia e economia linguística não
é nova.
A polissemia é uma condição essencial da sua [da
língua] eficiência. Se não fosse possível atribuir diversos sentidos a uma
palavra, isso corresponderia a uma tremenda sobrecarga na nossa memória:
teríamos que possuir termos separados para cada tema concebível sobre o qual
quiséssemos falar.
A polissemia é um factor inapreciável de economia e
flexibilidade da língua
Porém, a polissemia apenas é económica, porque o
domínio das várias acepções de uma mesma unidade não requer da parte do falante
qualquer esforço suplementar de memorização: efectivamente, o falante é capaz
de apreender genericamente o significado de uma unidade lexical ao ser
utilizada em contextos inesperados para denominar entidades inesperadas, ao
mesmo tempo que é capaz de denominar entidades cujo nome não conhece usando
palavras que designam entidades diferentes, sem que isso provoque dificuldades
de comunicação.
CAPÍTULO 2
A polissemia refere-se a um termo que
possui mais de um sentido e, por isso, depende do contexto de enunciação, pois,
se estiver fora de contexto, pode provocar a ambiguidade, que consiste no duplo
sentido de um enunciado.
A ambiguidade gera a incompreensão.
Vejamos o exemplo abaixo:
- Jenival cortou a mangueira.
- Que pena! Eu gostava tanto daquelas
mangas.
- Estou falando da mangueira de regar
plantas.
-
Ah, pensei que...
- Ele fez bambolês para as crianças."
Ambiguidade é
variedade de interpretação que um discurso pode conter.
Exemplo: Ninguém conseguia se aproximar do porco do tio, tão bravo ele era.
Essa oração pode ser entendida com
ironia, na medida em que pode ser interpretada como uma ofensa ao tio. Ao mesmo
tempo, o tio pode realmente ter um suíno que é bravo.
Há outros termos que apesar das semelhanças gráficas e
na pronúncia, apresentam significados diferentes. Trata-se dos homônimos
perfeitos.
A diferença entre os termos polissêmicos e os
homônimos é que a sua origem etimológica, além da ideia que expressam, são
diferentes.
Normalmente definimos duas palavras
homónimas como sendo aquelas que apresentam a mesma forma (fonética e gráfica),
mas que têm dois significados diferentes não relacionáveis entre si.
Por seu turno, uma palavra considera-se
polissémica quando apresenta vários significados (mais do que um), sendo
possível estabelecer uma relação entre esses vários significados.
Embora a definição destes conceitos seja
simples, quando perante casos particulares nem sempre é fácil dizer se estamos
efectivamente perante duas palavras homónimas ou se, pelo contrário, perante
uma palavra polissémica.
Exemplos:
Estava uma fila enorme no banco por causa do dia do pagamento dos
trabalhadores.
Joana sentou no banco da praça para terminar de ler seu livro.
Se você não tiver dinheiro, eu banco nossa viagem ao exterior.
No exemplo acima, podemos constatar que o termo "banco" é homônimo. A mesma palavra significa: instituição financeira (oração 1); assento (oração 2) e arcar com as despesas, pagar (oração 3).
CONCLUSÃO
A
polissemia é o conjunto dos vários sentidos de uma palavra ou locução. É
preciso ficar atento às diferenças entre as palavras polissêmicas e palavras
homônimas.
Finalmente
vimos que, se não fosse possível atribuir diversos sentidos a uma palavra, isso
corresponderia a uma tremenda sobrecarga na nossa memória: teríamos que possuir
termos separados para cada tema concebível sobre o qual quiséssemos falar. A
polissemia é um factor inapreciável de economia e flexibilidade da língua.
BIBLIOGRAFIA
PEREZ, Luana Castro
Alves. "O que é polissemia?"; Brasil Escola. Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/o-que-e/portugues/o-que-e-polissemia.htm.
Acesso em 14 de maio de 2022.
Aput. CÂMARA JR., J. Mattoso.
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Pedroso Moraes, polígrafo da disciplina Língua Portuguesa VI, sd, sp
Aput Ullmann, S. (1977). Semântica:
uma introdução à ciência do significado. 4.ed. (Mateus, J.A.O Trad.). Lisboa:
Fundação Calouste Gulbenkian (Original publicado em 1964). Corbari,
BECHARA, E. Moderna Gramática Portuguesa. 37ª ed.
Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira e Editora Lucerna, 2009. 574 p.
CORREIA,
M. Homonímia e polissemia - contributos para a delimitação dos conceitos. In:
Palavras, n.º 19, Lisboa: Associação dos Professores de Português, 57–75, 2000.
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